quarta-feira, 4 de março de 2015

Declaração de Amor

Amigos e amigas, preciso usar esse blog para me declarar. 

Essas declarações serão frequentes a partir de agora, mas essa é a primeira e confesso estar ansiosa para fazê-lo. Preciso confessar que, apesar de toda a pressão para que eu tenha ódio, repulsa, vergonha... EU AMO O MEU CORPO.
Meu corpo é PERFEITO! Não, ele não é perfeito em detrimento do seu corpo ou do corpo de qualquer outra pessoa. Ele é perfeito pra mim. Ele foi feito exatamente pra mim. Cada curva, cada pinta, cada marca, cada pelo. É meu. É único. E eu os amo.
É do meu corpo que tiro meu sustento, que vivo meus dias. É meu corpo que me proporciona os prazeres e dores da vida e cada coisinha que tem nele é pra isso. Cada pelinho tem sua função, cada odor tem seu papel. Cada fluído tem sua importância.
Fomos ensinadas, mulheres, a nos odiar. Odiar nosso suor, odiar nossos pelos, odiar nosso sangue, nossas formas. Nos põem desde novinhas regras para escondermos nosso corpo. Nos ensinaram que somos impuras, que não podemos nos tocar, não podemos nos explorar, nos conhecer. Nos ensinaram que temos que disfarçar nossos cheiros, arrancar nossos pelos e esconder nosso sangue. Nos ensinaram a ter nojo de nós mesmas! Nos disseram que nosso prazer pertence a outro e não nos deram acesso a ele. Nos criaram para sermos "puras", "castas", "indefesas" e "infantis" e a odiar tudo aquilo que nos fazem MULHER.
Pois eu não quero mais ser o que me ensinaram! Pois é meu corpo, são meus fluídos, meus odores que trazem VIDA! É de mim que sai a coisa mais valiosa do mundo! É o meu corpo que se prepara pra trazer um ser, todos os meses. E sou eu quem decido se trarei ou não esse ser. E mesmo que não o traga, meu sangue, aquele que sai de dentro de mim é sagrado, é puro sim! É vivo! Fertiliza! São meus pelos que me protegem, são meus odores que me identificam. Tenho milhões de motivos pra me amar! Eu sou sagrada!
Nosso sistema, em sua sede de poder e dinheiro nos oprime diariamente. Nos dá sabonetes, lenços, desodorantes, maquiagens, cremes... que nos alteram. Que nos trazem males. Remédios que nos fazem tomar mais remédios, que nos viciam, que nos tiram nosso prazer. Absorventes que nos fazem ter nojo do que temos de mais valioso, pois, ao invés de vermos nosso sangue limpo, vemos sangue putrefato, contaminado por químicas. Negamos nossos corpos e ele reage à nossa negação. Nos torna cada vez mais doentes em cólicas, em problemas hormonais, circulatórios, em distúrbios psicológicos. Nosso corpo nos grita: ME ACEITE! Eu sou a única coisa que você realmente possui!
Aceitei. Aceitei e vou brigar com tudo e todos para aceitar mais ainda. Para meu amor crescer mais e mais. Para não ser julgada, condenada, criminalizada por meu sexo, por meu sangue, por meu útero, meus ovários, minha vagina!
E é por isso que o sistema nos odeia tanto: porque somos, juntas, mais poderosas que ele. Somos a revolução!
Pois somos nós, mulheres, que trazemos ou não a vida. São nossas vaginas e nosso sangue que nutrem o mundo. SOMOS SAGRADAS. Repito: SAGRADAS!
Nos amar genuína e profundamente é enfrentar o patriarcado. Nos amar, genuína e profundamente é amar o mundo. Nos amar é um ato político.



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